terça-feira, 20 de novembro de 2012
Em 16 de dezembro de 1989, eclodiu na cidade de Timişoara, na parte ocidental da Romênia, um protesto contra  uma decisão de desapropriar um sacerdote húngaro, László Tőkés, que havia se manifestado contra o governo romeno. Era o primeiro dos eventos que culminaram na derrubada do regime comunista na Romênia e fuzilamento de Nicolae Ceauşescu, o mais caricato dos líderes do antigo Leste Europeu. Nesse protesto, segundo estimativas não oficiais, a polícia secreta romena (Securitate), que havia, nos últimos anos do regime, se tornado tão presente a ponto de transformar a Romênia em um Estado Policial, matou cerca de 2000 manifestantes. Muitos deles, certamente, torcedores do que era o então clube mais tradicional da cidade, o Politehnica Timişoara.

À época de sua fundação, em 1921, e até o início da Segunda Guerra Mundial, a cidade viu os tradicionais Ripensia e Chinezul vencerem o campeonato nacional por diversas vezes. A Poli era apenas o terceiro clube da cidade e frequentava divisões inferiores da Liga Romena. Só com a ascensão do regime comunista e consequente dissolução dos times do Ripensia e Chinezul, é que o Politehnica Timişoara passou a ser o clube mais querido da cidade, sobretudo após 1948, com a promoção do clube à primeira divisão, onde permaneceu por muito tempo. 

Eu vinha acompanhando há alguns anos as campanhas do Poli Timişoara no campeonato romeno. Foram vice campeões na temporada 2008-09, quinto colocados na temporada 2009-10 e, na temporada 2010-11, foram novamente vice-campeões, perdendo o título para o Oțelul Galați. Portanto, foi uma grande surpresa quando, após o fim da temporada 2010-11, a equipe acabou sendo rebaixada devido a débitos com a federação romena. Em setembro desse ano, a equipe acabou sendo dissolvida, acompanhando o destino de várias tradicionais equipes romenas nos últimos anos. Era o fim de 91 anos de história. Mas os torcedores da equipe não ficaram órfãos. Migraram sua torcida para o ASU Politehnica Timişoara, fundado por um grupo de torcedores dois anos antes, talvez já prevendo o funesto destino de seu clube de coração. 

A paixão dos torcedores da nova Poli, que atualmente disputa a gloriosa quinta divisão romena, pode ser vista neste vídeo, publicado ontem no blog de Gustavo Hoffmann. Ver essa demonstração, ainda mais por um clube que disputa uma quinta divisão nacional, mostra que o futebol é muito mais do que os milhões movimentados a cada minuto pelo futebol mainstream e prova que sim, ainda é possível lutar contra o futebol moderno.

Bem, falando de camisas, eu possuo 3 camisas da Poli Timişoara. As duas primeiras não sei exatamente a qual temporada pertencem. A terceira foi provavelmente o último modelo utilizado pela equipe, a partir de 2011, possuindo inclusive a inscrição comemorativa dos 90 anos da equipe. Essa última comprei na simpática cidade de Timişoara.






Para ler:
SIANI-DAVIES, Peter. The romanian revolution of December 1989. Ithaca: Cornell University Press, 2007. 328 p.
VAINER, Nelson; MAGALHÃES JUNIOR, R. Antologia do conto romeno. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1964. 256 p.

Para assistir:
Filmes "A leste de Bucareste" e "Como festejei o fim do mundo".

3 comentários:

Fábio disse...

Cara, fantástico. O texto, as camisas, a história. Belíssima a camisa branca, o patrocínio da Audi. Só não entendi bem o escudo, é um polvo, uma medusa? ahaha.
Essas histórias de falência, futebol acima do dinheiro, são dignas de um respeito eterno.

Gil Nunes disse...

Muito bom o texto. O melhor, é saber que um húngaro 'tacou' o terror, culminando com a derrubada do ditadorzinho mais fajuto de todos os tempos. hehee
Enfim, essa camisa roxa é muito bela. Apesar de concordar com o Fábio que a branca com o patrocínio da Audi ficou muito bela. Em breve você será o maior colecionador de camisas do Universo. Tem várias camisas do mesmo time. Tenho certeza que você já é o maior colecionador de clubes do Leste. Destrua boneca. Eu ainda não voltei a gostar de futebol, mas confesso que é legal acompanhar as divisões pobres. É lá que o futebol de verdade ainda existe.

Fernando Silva disse...

O escudo é uma armadura de um cavaleiro medieval haha

Gil, não sou maior colecionador de nada! E pára com essa frescura logo!

Twitter Orkut Facebook Digg Favorites Mais
Tecnologia do Blogger.

Seguidores

Visitantes

free counters

Blogger news