segunda-feira, 26 de novembro de 2012
Em março de 2010 a Islândia virou notícia diária em todo mundo, graças ao vulcão
Eyjafjallajökull (lógico que copiei e colei do google), cuja erupção prejudicou o tráfego aéreo por toda a Europa. Esse evento deve ter mudado drasticamente o cotidiano pacato dos islandeses, cuja vida não parece ter sofrido o efeito do corre-corre de nossos dias (Bem, desculpem se estiver errado a respeito disso, mas o meu referencial do cotidiano da Islândia é o dvd da banda Sigur Rós).
A Islândia é, acima de tudo, um país de lendas e estórias riquíssimas, que vão de deuses nórdicos a Papai Noel. Este último, aliás, assume um papel um pouco diverso no folclore islandês. Trata-se de não um, mas 13 Papais Noéis, que visitam as casas das crianças, um a um, nas 13 noites que antecedem o Natal, para roubar comida, objetos e pregar preças. A mãe desses Papais Noéis é chamada de Grýla e é uma espécie de Troll que devora as crianças mal-comportadas. Hoje em dia não usam essa figura avessa do Papai Noel por lá, (efeito do consumismo natalino?), mas assim foi como a lenda foi originalmente criada.
No futebol, a Islândia tem melhorado bastante, ainda mais se considerarmos que a população total do país não chega a 340 mil habitantes. Os islandeses estão no grupo E das eliminatórias da Copa de 2014 e ocupam o quarto lugar, na frente de Eslovênia e Chipre e só um ponto atrás da segunda colocada Noruega. Em maio deste ano, a Islândia abriu 2x0 contra a França, em um amistoso, fora de casa, deixando por um momento a impressão de que poderia protagonizar uma zebra histórica em pleno território francês. Mas os Les Bleus acabaram virando para 3x2, para a decepção islandesa.
Para terminar, gostaria de dizer que o Stjarnan F.C., equipe que disputa a primeira divisão islandesa, possui as comemorações de gols mais geniais já vistas no futebol. Algo muito melhor que as palhaçadas vistas no Campeonato Brasileiro. Assista aqui! Não deixe de ver, vale muito a pena!
Bem, a camisa da Islândia de minha coleção, é a utilizada pela equipe na temporada 2008-09. Fabricada pela Errea, possui um design simples, mas esse tom de azul é um de meus preferidos e isso torna a camisa muito bonita, em minha opinião:
LAXNESS, Halldor Kiljan. A estação atômica. Rio de janeiro: Opera Mundi, 1970. 260 p.
ARNASON, Jon; JONSSON, Kjartan Gud. Icelandic folk tales and fairytales. [S.l.]: Iceland Review, 2000. 123 p.
Para ouvir: Discografia da banda Sigur Rós.
sexta-feira, 23 de novembro de 2012
Não se pode dizer que o futebol do nordeste seja desconhecido das torcidas brasileiras. Ele abriga clubes famosos como Fortaleza, Ceará, ABC, América/RN, CSA, CRB, Santa Cruz, Náutico, Sport, Bahia, Vitória. E poucos também são os que não conhecem clubes menores, mas presentes no imaginário popular, como Moto Clube e Sampaio Correia, ou Flamengo e River do Piauí.
Pouco se fala, no entanto, dos times do Estado de Sergipe, o menor Estado do Brasil, e com uma tradição também pequena no cenário futebolístico nacional. Dos anos 90 para cá os times deste Estado praticamente sumiram das competições nacionais (ok, todo ano tem algum na Copa do Brasil, mas naquela fase que quase ninguém assiste). No Brasileiro mesmo há algum tempo nenhum passa das séries C e D.
O campeonato sergipano, atualmente, é a única competição que os times do Estado disputam com chance de título. Os três maiores ganhadores, e rivais, são: Confiança e Sergipe, da capital Aracaju, e o Itabaiana, o tricolor da Serra, de cidade homônima no interior. (um parêntese, o Itabaiana tem no hino um dos refrões que mais gosto "na vitória, ou derrota, a disputa com luta e o abraço de irmão"). Nos últimos anos o "bicho papão" tem sido o River Plate, da cidade de Carmópolis, famosa pela exploração de Petróleo. Falarei aqui um pouco sobre a Associação Desportiva Confiança, clube que nasceu em 1936, no Bairro Operário de Aracaju. Formado por funcionários de uma fábrica de tecidos para disputar olimpíadas municipais, logo chegou ao futebol. A partir daí nasceu o derby contra o Club Sportivo Sergipe, tomando o lugar do extinto Cotinguiba Esporte Clube, até então o maior rival do time rubro. O time manda atualmente seus jogos no estádio Batistão, assim como o Sergipe.
Apesar da já citada situação ruim do futebol no Estado, nem sempre foi assim. Em outras épocas, principalmente quando o Campeonato Brasileiro era mais democrático, e a concentração de renda no futebol não era tão determinante; numa época em que os talentos locais ficavam alguns anos em seus celeiros antes de ganhar o Brasil e o mundo, o Confiança teve grandes times. Revelou jogadores nacionalmente famosos, como o zagueiro Váldson, do Botafogo dos anos 90, e o mais conhecido: Nunes, que brilhou no Flamengo dos anos 80 e fez dois gols na final do mundial contra o Liverpool. Aliás, foi contra o próprio Flamengo que o Confiança protagonizou um de seus maiores momentos no cenário nacional. No brasileiro de 1977 o Dragão sergipano disputou a liderança do grupo contra o rubro-negro carioca. Contava o saudoso radialista Carlos Rodrigues que equipes de tv cariocas disputavam espaço nas areias da praia para filmar a sensação do nordeste que poderia deixar o time mais popular do Brasil para trás. O Flamengo acabou vencendo por 3 a 1, mas aquela ainda é a melhor campanha de um time sergipano em competições nacionais. O clube possui 18 campeonatos estaduais, e quatro taças Cidade de Aracaju, além de outros torneios menores. A última participação na série A foi em 1984.
Esta camisa é da temporada de 2008, ano em que o Confiança quase subiu para a série B do Brasileiro, tendo sido este, até 2012, o último grande feito nacional do time operário do Bairro Industrial.
terça-feira, 20 de novembro de 2012
Em 16 de dezembro de 1989, eclodiu na cidade de Timişoara, na parte ocidental da Romênia, um protesto contra uma decisão de desapropriar um sacerdote húngaro, László Tőkés, que havia se manifestado contra o governo romeno. Era o primeiro dos eventos que culminaram na derrubada do regime comunista na Romênia e fuzilamento de Nicolae Ceauşescu, o mais caricato dos líderes do antigo Leste Europeu. Nesse protesto, segundo estimativas não oficiais, a polícia secreta romena (Securitate), que havia, nos últimos anos do regime, se tornado tão presente a ponto de transformar a Romênia em um Estado Policial, matou cerca de 2000 manifestantes. Muitos deles, certamente, torcedores do que era o então clube mais tradicional da cidade, o Politehnica Timişoara.
À época de sua fundação, em 1921, e até o início da Segunda Guerra Mundial, a cidade viu os tradicionais Ripensia e Chinezul vencerem o campeonato nacional por diversas vezes. A Poli era apenas o terceiro clube da cidade e frequentava divisões inferiores da Liga Romena. Só com a ascensão do regime comunista e consequente dissolução dos times do Ripensia e Chinezul, é que o Politehnica Timişoara passou a ser o clube mais querido da cidade, sobretudo após 1948, com a promoção do clube à primeira divisão, onde permaneceu por muito tempo.
Eu vinha acompanhando há alguns anos as campanhas do Poli Timişoara no campeonato romeno. Foram vice campeões na temporada 2008-09, quinto colocados na temporada 2009-10 e, na temporada 2010-11, foram novamente vice-campeões, perdendo o título para o Oțelul Galați. Portanto, foi uma grande surpresa quando, após o fim da temporada 2010-11, a equipe acabou sendo rebaixada devido a débitos com a federação romena. Em setembro desse ano, a equipe acabou sendo dissolvida, acompanhando o destino de várias tradicionais equipes romenas nos últimos anos. Era o fim de 91 anos de história. Mas os torcedores da equipe não ficaram órfãos. Migraram sua torcida para o ASU Politehnica Timişoara, fundado por um grupo de torcedores dois anos antes, talvez já prevendo o funesto destino de seu clube de coração.
A paixão dos torcedores da nova Poli, que atualmente disputa a gloriosa quinta divisão romena, pode ser vista neste vídeo, publicado ontem no blog de Gustavo Hoffmann. Ver essa demonstração, ainda mais por um clube que disputa uma quinta divisão nacional, mostra que o futebol é muito mais do que os milhões movimentados a cada minuto pelo futebol mainstream e prova que sim, ainda é possível lutar contra o futebol moderno.
Bem, falando de camisas, eu possuo 3 camisas da Poli Timişoara. As duas primeiras não sei exatamente a qual temporada pertencem. A terceira foi provavelmente o último modelo utilizado pela equipe, a partir de 2011, possuindo inclusive a inscrição comemorativa dos 90 anos da equipe. Essa última comprei na simpática cidade de Timişoara.
Para ler:
SIANI-DAVIES, Peter. The romanian revolution of December 1989. Ithaca: Cornell University Press, 2007. 328 p.
VAINER, Nelson; MAGALHÃES JUNIOR, R. Antologia do conto romeno. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1964. 256 p.
Para assistir:
Filmes "A leste de Bucareste" e "Como festejei o fim do mundo".
domingo, 18 de novembro de 2012
As eliminatórias da Eurocopa de 1992 foram marcadas pela campanha quase impecável da seleção iugoslava de futebol. Com 7 vitórias e apenas 1 derrota, terminaram em primeiro lugar no Grupo 4 e tiveram o segundo melhor desempenho geral, ficando atrás da França, apenas. Era o auge da geração de Jozic, Savicevic e Prozinecki. A boa campanha a qualificava como uma das favoritas da Euro 92.
Mas algo estava errado. O povo iugoslavo não tinha motivo para comemorar aquelas vitórias de 1991. Porque embora ainda existisse a seleção de futebol, a Iugoslávia estava se dissolvendo. Primeiro foram as declarações de independência da Eslovênia (gerando o "menos sangrento" dos conflitos, a chamada Guerra dos Dez Dias) e Croácia (que gerou uma guerra que durou até 1995). Depois, a situação ficou ainda mais tensa com os discursos nacionalistas de Slobodan Milosevic, então presidente da Iugoslávia, que reacendeu antigos sentimentos nacionalistas sérvios. Agora já não era apenas uma guerra separatista, era um conflito carregado de ódio étnico que causou milhares de baixas civis.
Particularmente, sempre fui aficcionado pela Iugoslávia. Quando criança, meu time de futebol de botão favorito era o da seleção iugoslava, o que fazia com que eu fosse um grande fã do país (que pese o fato de que eu não soubesse absolutamente nada sobre ele além do formato de sua bandeira, estampado em meu time de botão). Com o início do conflito, entretanto, a Iugoslávia passou a ser mais do que um time de futebol de botão. Não entendia muito o que via na TV, mas entendia duas coisas: 1. As pessoas estavam morrendo e 2. Aquela seleção de futebol, que fizera a minha alegria em campeonatos com os meninos da vizinhança, em "estádios" improvisados, desenhados a giz na cerâmica da garagem de minha casa, não existiria mais. Sim, naturalmente era muito mais do que isso, mas aquela era a maneira como minha mente pueril de 11 anos entendia aquilo tudo. E, se você parar pra pensar, de fato a existência da seleção nacional, não só a de futebol, explica sim muita coisa. Essa ideia está bem clara no documentário "Once Brothers", sobre o jogador sérvio Vlade Divac e o croata Drazen Petrovic, ambos ídolos do basquete iugoslavo e que fizeram parte daquela que talvez tenha sido a melhor seleção de basquete europeia de todos os tempos.
Estive em Sarajevo no início desse ano. Em dado momento perguntei ao dono do albergue em que nos hospedamos se ele achava que os tempos da Iugoslávia eram melhores do que os atuais. Ele respondeu, sempre muito sereno: "Muito, muito melhor. Antes éramos, para o mundo, a importante Iugoslávia. Agora somos apenas um país pobre." E depois de um tempo em silêncio, completou: "A pobre Bósnia".
Possuo algumas camisas da seleção iugoslava. Para a surpresa do menino que fui, elas não possuem a bandeira com a estrela no meio, como meu time de futebol de botão, mas o brasão da República Socialista Federativa da Iugoslávia, uma espécie de tocha das olimpíadas, como bem observou o grande intérprete de símbolos Fábio Farias.
Possuo algumas camisas da seleção iugoslava. Para a surpresa do menino que fui, elas não possuem a bandeira com a estrela no meio, como meu time de futebol de botão, mas o brasão da República Socialista Federativa da Iugoslávia, uma espécie de tocha das olimpíadas, como bem observou o grande intérprete de símbolos Fábio Farias.
A primeira delas é também a camisa mais antiga de minha coleção, foi o modelo utilizado durante a Copa de 1982:
A segunda é uma camisa retrô feita sob encomenda pelo sempre excelente Mourasport:
A terceira é uma camisa pós 1990, que não posso precisar o ano:
A quarta é o último modelo elaborado para a seleção antes da guerra e do banimento pela FIFA. Não sei se de fato chegou a ser utilizado, mas é o modelo que seria utilizado na Euro 92, caso a seleção tivesse disputado a competição:
A última é o modelo utilizado na Euro 2000, com uma Iugoslávia dissolvida, composta apenas pelas Repúblicas da Sérvia e de Montenegro:
Para ler:
AGOSTINO, Gilberto. Vencer ou morrer: futebol, geopolítica e identidade nacional. Rio de Janeiro : Mauad, 2002.
ANDRIC, Ivo. A ponte sobre o Drina: crônica de Visegrad. Lisboa: Europa-América, [19--?].
FOER, Franklin. Como o futebol explica o mundo: um olhar inesperado sobre a globalização. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005.
SACCO, Joe, Gorazde. São Paulo: Conrad, 2001.
Para ver:
Documentários "Once Brothers", "The last yugoslavian team" e "The death of Yugoslavia".
ANDRIC, Ivo. A ponte sobre o Drina: crônica de Visegrad. Lisboa: Europa-América, [19--?].
FOER, Franklin. Como o futebol explica o mundo: um olhar inesperado sobre a globalização. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005.
SACCO, Joe, Gorazde. São Paulo: Conrad, 2001.
Para ver:
Documentários "Once Brothers", "The last yugoslavian team" e "The death of Yugoslavia".
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